Gabinete de Crises da República Federativa do Brasil

Documentos finais:

 

A questão do Iraque, 2003

A Secretaria para Acompanhamento e Estudos Institucionais da Presidência da República (SAEI/PR), mais conhecida como Gabinete de Crises, tem o propósito de acompanhar assuntos de relevância, nos cenários internacional e nacional, que envolvam, direta ou indiretamente, os interesses brasileiros. O Gabinete é responsável por trazer informações para o Presidente da República, além de coordenar e administrar possíveis crises (COUTO, SOARES, 2013).

Em 6 de janeiro de 2003, o presidente George W. Bush faz uma ligação ao recém eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva, colocando a seguinte pergunta: qual seria a posição do Brasil caso os Estados Unidos da América (EUA) invadissem o Iraque naquele ano? O momento era de mudanças tanto no cenário internacional quanto no nacional. No primeiro caso, desde 2001, avança uma política de combate ao terror liderada pelos EUA e apoiada por grande parte dos países ocidentais. A investida americana no Iraque aparece como um movimento duplo: por um lado, está a continuidade da Guerra do Golfo e a desavença americana com Saddam Hussein; por outro, está a alegação de que o Iraque, assim como o Afeganistão, concentrava atividades terroristas que seriam uma ameaça mundial (KISSINGER, 2015, pp.323-324).

Imagem 1 - Lula e Bush discursam em visita do presidente americano ao Brasil.

Imagem 1 – Lula e Bush discursam em visita do presidente americano ao Brasil.

No cenário nacional, a posse do presidente Lula representa uma mudança que promete reflexos também na política externa brasileira. Em seu discurso de posse, proferido no dia 1˚ de janeiro de 2003, o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu a manutenção da paz e a defesa do princípio de não intervenção, ao mesmo tempo em que lembrou a importância de se manter uma relação de confiança e amizade com os EUA (AMORIM, 2003, pp.56-59). Diante disso, apoiar o vizinho na campanha iraquiana significaria reafirmar o compromisso brasileiro com a aliança continental, mas traria impactos tanto políticos quanto econômicos para o país. Já a negação do apoio, exigiria da nova política externa brasileira uma capacidade de rearticular suas alianças e reinventar seu posicionamento no sistema internacional.

Diante disso, os representantes do Gabinete de Crises se reunirão a partir do dia 6 de janeiro para elaborar um cenário que contemple medidas de curto, médio e longo prazo, considerando os impactos, para o Brasil, de uma possível invasão do Iraque. O gabinete deve elaborar um relatório final que permita ao Presidente da República dar o veredicto sobre as proposições apresentadas.

REFERÊNCIAS

AMORIM, C. “Discurso do Embaixador Celso Amorim por ocasião da Transmissão do Cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores, em Brasília”. In: SILVA, L. I. ; AMORIM, C.; GUIMARÃES, S. P. A política externa do Brasil. Brasília: IPRI/FUNAG, 2003, pp. 47-60. Disponível em: <http://funag.gov.br/loja/download/128-PolItica_Externa_do_Brasil_A.pdf>. Acesso em: 13.fev.2016.

COUTO, J. A. C.; SOARES, J. A. M. Gabinete de crises: histórias reais FHC-Lula-Dilma. Campinas: FACAMP, 2013.

KISSINGER, H. “Os Estados Unidos: superpotência ambivalente”. In: ______. Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015, pp. 318-330.

Imagem

MARQUES, A. “Lula cobra mais abertura de Bush”. In: Folha de S. Paulo Online, 07 de novembro de 2005. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/inde07112005.shl>. Acesso em: 30.maio.2016.